Por Letícia Naísa
O mercado fitness no Brasil vem crescendo muito rápido – e isso é notável até para quem não pratica atividade física. Hoje perdemos apenas para os Estados Unidos em números de academias, contando com 32 mil estabelecimentos espalhados por todo o país. Consequentemente, a quantidade de lojas voltadas para o público que pratica exercícios diversos também aumentou, principalmente as de suplementos alimentares, que prometem acelerar os resultados do treinamento.
Segundo o relatório da Euromonitor International, um órgão europeu de pesquisa e análise de dados de produtos e serviços, a venda de proteína em pó (a famosa whey protein) cresceu 10% no ano passado, com tendência a continuar aumentando. E, em uma pesquisa divulgada em 2016 pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), constatou-se que 54% dos lares brasileiros possuem ao menos uma pessoa que consome algum tipo de suplemento alimentar, seja vitaminas, minerais, carboidratos, termogênicos ou proteínas, já que é grande a variedade presente no mercado.
Todo mundo conhece alguém que toma suplemento. Muitas vezes, amigas e até a própria treinadora acabam indicando alguma marca que promete fazer milagres no seu corpo. Virou febre apostar em cápsulas, pós e barrinhas para ficar sarada. Afinal, que mal eles podem fazer?
Diferentemente dos velhos conhecidos anabolizantes, os suplementos são considerados alimentos complementares, para fornecer nutrientes que podem estar em falta na alimentação – e isso difere de pessoa para pessoa. “Eles são derivados de produtos naturais; é como se você estivesse ingerindo alimentos”, explica o preparador físico Sérgio Villanova. “Cada pessoa tem uma necessidade diária de nutrientes diferente. Quando ela não consegue consumir essa quantidade através da alimentação, é hora de suplementar.”
Isso não significa que você deva correr e procurar, por exemplo, suplementos de proteína se não come carne. Apesar de serem vendidos sem prescrição, é unânime a opinião dos profissionais da área esportiva e de saúde: “O uso de suplementos deve ser feito com orientação de um nutricionista ou médico, para que ele avalie se você precisa mesmo consumir o produto e de qual tipo”, aconselha Allan Ferreira, nutrólogo do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro da Sociedade Brasileira de Nutrologia. A mesma recomendação também é feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regulamenta a venda dos suplementos alimentares no Brasil. A busca pela orientação de um nutricionista ou médico antes do consumo de qualquer suplemento é fortemente encorajada pelo órgão, assim como a aposta em uma alimentação equilibrada sem a ajuda de cápsulas ou pós. Ainda assim, na prática, educadores físicos são os que mais indicam o consumo desse tipo de produto.
Há riscos?
Entre os “ratos de academia”, a maior parte procura pelos suplementos proteicos, já que eles promovem o aumento de massa muscular. O whey protein, o BCAA (composto por três aminoácidos: isoleucina, leucina e valina) e a creatina (composta por aminoácidos presentes na carne) são os mais populares. Mas usá-los baseada apenas na indicação do personal trainer ou da amiga que está mega sarada pode ser um risco, uma vez que o excesso de proteínas afeta principalmente os rins, podendo acarretar em pedras no local e causar até a remoção total do órgão por meio de cirurgia.
Já o excesso de ingestão de cafeína ou energéticos – tipo de suplementação utilizada para dar mais pique durante o treino – ou de termogênicos, que aceleram a queima de gorduras, é capaz de acelerar os batimentos cardíacos e pode ser fatal para quem sofre de problemas do coração.
Antes de qualquer coisa, é preciso uma bateria de testes para avaliar os excessos e deficiências nutricionais do seu corpo. Já recebeu a orientação do médico? Agora é preciso escolher muito bem a marca que irá comprar. Entre 2013 e 2014, a Anvisa avaliou 25 suplementos de whey protein. Destes, 20 foram reprovados nos testes, pois apresentaram quantidades de nutrientes diferentes das informadas nos rótulos, além de utilizarem ingredientes não declarados na embalagem. Este ano, cinco outros suplementos foram adicionados à lista negra por conterem ingredientes não listados ou não possuírem os anunciados na embalagem. Por isso, antes de apostar – e gastar uma grana salgada – no suplemento que o vendedor promete que vai deixar seu corpo do jeito que você quer, é preciso pesquisar se há restrições à marca em sites confiáveis, como no próprio site da Anvisa.
Mesmo que você já tenha escolhido (com liberação profissional) um suplemento confiável, ainda é preciso ficar atenta ao consumo correto. “Somente usando de forma certa o produto não causará problemas e pode ser saudável, potencializando a melhora física”, diz Gilberto Coelho, professor de educação física e especialista em fisiologia do exercício, de São Paulo.
Substituir refeições por suplementos, principalmente por conta própria, pode ser uma decisão errada e com consequências variadas. Na melhor das hipóteses, se você consome sem praticar exercícios físicos, mas tem uma alimentação saudável, pode engordar por causa do excesso de calorias. Na pior delas, se você consome vários copos por dia, corre o risco de desenvolver os problemas de saúde citados anteriormente, como arritmia cardíaca ou sobrecarga (e até falência) dos rins. O nutricionista é a única pessoa capaz de avaliar a quantidade exata de pessoa para pessoa, com base na sua alimentação, objetivos físicos e histórico de doenças.
Ah, e não vá pensando que é possível ficar com um corpo definido apenas tomando creatina. Silvia Mantovani, nutricionista, de São Paulo, explica que existem três pilares para conseguir se manter em forma de maneira saudável: “Precisa combinar a dieta, a atividade física e, se necessário, a suplementação”. “Muitas pessoas colocam todo o crédito do resultado em cima do pó milagroso, acham que isso vai fazer a diferença. Não vai. O resultado é obtido com treino e dieta”, ressalta Sérgio.
Suplementos vs anabolizantes
Uma dúvida muito frequente entre quem busca ganho de massa muscular é saber a diferença entre esses dois tipos de produtos. Os suplementos alimentares são compostos de nutrientes que podem ser encontrados na comida. Já os esteroides anabolizantes, conhecidos somente como anabolizantes, são uma espécie de testosterona sintética e considerados medicamentos, receitados por endocrinologistas para tratamento de algumas disfunções na produção natural do hormônio. Por isso, só podem ser comprados com prescrição.
As consequências do uso indiscriminado de anabolizantes para o aumento de massa são gravíssimas: mais agressividade, problemas vasculares, como coágulos, hipertensão e ataque cardíaco, além do aparecimento de tumores benignos ou malignos (câncer). Eles ainda multiplicam a acne e o aparecimento de pelos (inclusive faciais), provocam queda de cabelo, diminuem os seios e engrossam a voz.
Whey feminino
O suplemento queridinho do mundo fitness com certeza é o whey protein. Vendido normalmente em pó (e em potes bem grandes), ele é feito da proteína do soro do leite. Sua principal função é permitir o ganho de massa muscular por promover a recuperação dos músculos quando associado a exercícios de força. Além disso, promove saciedade e auxilia a perda de peso, motivos que ajudaram o produto a se tornar popular entre o público feminino.
Pensando em nós — será? —, algumas marcas lançaram potes de whey contendo algumas substâncias diferentes, como o colágeno, uma proteína benéfica para fortalecer a estrutura da pele, do cabelo e das articulações. Apesar do ingrediente especial, a função e o efeito da proteína do leite ainda são os mesmos, segundo especialistas. O que muda é que o produto ganha uma função estética. “Pode ser benéfico porque, a partir dos 25 anos, a mulher passa a produzir menos colágeno. Mas, fora isso, não há diferença em comparação com o whey normal. É tudo jogada de marketing”, afirma a nutricionista esportiva Silvia Montovani.